Jogo dos 7 erros

segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Leiam a matéria publicada no G1 e tentem encontrar os erros do texto. Como sou ansiosa, vou levantando alguns pontos.

Primeiro, a sigla CNEM com esse M no final, o que foi que deu no jornalista? Sério. No meio do caminho ele fala sobre o 131I, fala como se fosse só para diagnóstico...ok, passa, nada grave. 
Aí começa a festa: "Por ter uma validade média de oito dias, o produto tem sido substituído em exames pelo iodo 123 ultrapuro, cuja radioatividade dura 13,2 horas". Cê jura? Jura que não houve nenhuma consultinha básica a um especialista para esclarecer isso um pouquinho melhor? Ah! Houve sim: o "O técnico da CNEM (sic) (...) disse que se houvesse iodeto e a substância estivesse dentro da validade, o produto poderia provocar queimaduras e até câncer em quem o manuseasse". Oi?
Paro por aqui, nem vou adiante nos outros erros do artigo (de nomeclatura, por exemplo, só pra não passar em branco). 
Sempre comento com meus alunos que não estudamos para sermos 'apertadores de botão', devemos ser críticos e observadores para que sejamos capazes de discernir o certo do errado. Sem 'achismos', com fundamentação técnica para embasar nossos comentários.
Voltemos ao artigo: o 131I é um radiofármaco usado para terapia em Medicina Nuclear (para diagnóstico, o correto, sob o ponto de vista de radioproteção, seria o 123I) que é emissor gama (Eγ = 364 keV) e beta (Emax mais provável = 606 keV). A meia vida do 131I é de 8 dias e isto significa que, em 8 dias, a atividade deste material decai à metade, em 16 dias à quarta parte e por ai vai.
O conceito de meia vida, nada tem a ver com a validade impressa no frasco, que diz respeito a estabilidade bioquímica do material. Devemos aqui lembrar que estamos falando de um fármaco, ou seja, um medicamento que tem validade como qualquer outro.
A interação das radiações ionizantes da matéria ocorre de forma probabilística e os efeitos desta interação são divididos em estocásticos e determinísticos. A principal diferença entre eles é que os efeitos estocásticos causam a transformação celular enquanto que os determinísticos causam a morte celular.
Os efeitos determinísticos são aqueles decorrentes da exposição a altas doses de radiação e dependem diretamente desta exposição. Já os efeitos estocásticos são aqueles que se manifestam após meses ou anos da exposição à radiação, não permitindo estabelecer claramente uma relação de "causa e efeito". Estão relacionados a baixas doses de radiação e a probabilidade da ocorrência é proporcional à dose. Ao contrário dos efeitos determinísticos, é difícil estabelecer com segurança uma relação causal entre o efeito estocástico e a exposição à radiação ionizante, em virtude da grande quantidade de variáveis envolvidas e do longo tempo de latência para o aparecimento de um câncer de origem radiogênica.
Ou seja, o tal técnico disse que se houvesse o 131I no frasco, poderia ocorrer efeito estocástico e probabilístico ao mesmo tempo? Meu pai, me leva!
É claro que, para a população em geral, o simbolo de radiação ionizante é um tanto assustador. Que ótimo! Ele foi feito para isso! E a conduta de isolar a área e chamar a CNEN foi corretíssima, mas por razões totalmente diferentes daquelas mencionadas no G1: é necessário evitar a disseminação da contaminação para evitar incorporação do material radioativo.
É importante que as informações veiculadas sobre esse assunto sejam bastante precisas para orientar a população, evitar o pânico desnecessário e não virar motivo de chacota entre aqueles que conhecem o assunto. Porque, se não fosse tão absurdo, eu estaria rolando de rir.



O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil fecharam por quase três horas o acesso a uma quadra da área econômica do setor Sudoeste, em Brasília, após um morador encontrar uma embalagem com um selo da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM) jogada no lixo. A área foi isolada por orientação da CNEM até a chegada de um técnico do órgão no local.

Embalagem com produto supostamento radioativo (indicada pela seta) encontrada em quadra do Sudoeste Econômico, em Brasília, na manhã deste sábado (10) (Foto: Káthia  Mello/G1)
Embalagem com produto supostamento radioativo (indicada pela seta) encontrada em quadra do Sudoeste Econômico, em Brasília, na manhã deste sábado (10) (Foto: Káthia Mello/G1)
A embalagem descreve o produto como sendo iodeto de sódio 131. Segundo informações na página da CNEM, o iodeto de sódio é um produto radioativo usado na medicina no diagnóstico de doenças da glândula tireoide. Por ter uma validade média de oito dias, o produto tem sido substituído em exames pelo iodo 123 ultrapuro, cuja radioatividade dura 13,2 horas.

O técnico da CNEM Adriano de Souza afirmou que a embalagem encontrada estava vazia e com prazo de validade vencido – o selo era de 2008. Apesar disso, Souza disse que se houvesse iodeto e a substância estivesse dentro da validade, o produto poderia provocar queimaduras e até câncer em quem o manuseasse
A embalagem foi recolhida e levada para perícia. Segundo o técnico da CNEM, é possível rastrear a origem do produto a partir do selo. "Vamos fazer isso o mais rapidamente possível", afirmou.

Lembrança do césio 137
Segundo o major dos Bombeiros Hélio Guimarães Pereira, a notificação sobre o descarte da embalagem foi feita por um morador nesta manhã. Na tarde do dia anterior, o porteiro Francisco Aquino, que trabalha na quadra, chegou a manusear a embalagem. Um exame feito no porteiro com um contador Geiger –  aparelho que mede radiação – descartou contaminação.
Técnico da CNEM mede nível de radioatividade em porteiro que manuseou embalagem de material encontrado no lixo, em Brasília (Foto: Káthia  Mello/G1)
Técnico da CNEM mede nível de radioatividade em
porteiro que manuseou embalagem de material achado no lixo, em Brasília (Foto: Káthia Mello/G1)
O porteiro Fransico Aquino disse ter ficado aliviado com o resutado. "As pessoas ficaram falando do césio de Goiânia", disse.
O selo da CNEM levantou o medo de que a radiação do produto pudesse causar danos à saúde, como no caso da cápsula de césio 137 encontrada por catadores de lixo em Goiânia, em 1987, e que se transformou no maior acidente nuclear brasileiro.

A moradora Millene Francine, que já trabalhou com descarte de produtos tóxicos, disse que buscou informações sobre o produto encontrado tão logo ele foi identificado. “Procurei logo me informar que tipo de produto era para ver se era perigoso”, disse.

A advogada Jussara Costa Melo, que mora na quadra que foi interditada, disse ter ficado menos preocupada quando viu a rapidez dos bombeiros em isolar a área. Ela chegou a ser impedida pelos bombeiros de caminhar quando desceu de seu prédio para se exercitar.
O acidente com o Césio 137 ocorreu em 1987. O material radioativo estava em um equipamento médico abandonado em um hospital desativado da cidade. Depois de retirado da máquina, o césio 137 foi vendido para o dono de um ferro-velho. Várias pessoas que tiveram contato com o produto morreram.

Os donos do instituto de radiologia onde estava o equipamento foram condenados por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). O material contaminado – mais de 1,6 mil toneladas de entulhos, terra e roupas – foi transferido para um depósito especial em Abadia de Goiás.

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Feito com ♥ por Lariz Santana