Sobre o ensino da Física

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quando pensei em fazer Física, imaginava conhecer o mundo sob um prisma científico e filosófico bem aprofundado. Quando ingressei na universidade, confesso que me decepcionei bastante, pois esta expectativa estava bem longe de ser satisfeita. Cursei diversas disciplinas subjugadas pelo formalismo (ou não) matemático e reduzidas a manipulações algébricas e superenfadonhas.
Vi vários colegas (vários mesmo, uma vez a taxa de evasão de meu curso era de mais de 80%) desistirem do curso por acharem que talvez suas expectativas em relação ao curso e a profissão fossem ingênuas ou imaturas, mas hoje percebo que há uma grande possibilidade que as disciplinas estivessem sendo ensinadas de forma inadequada. Como nunca estudei isso a fundo, tal pensamento não passou de uma sensação ou intuição, por isso me sinto bem confortada quando leio artigos que compartilhem de minhas ideias. O que transcrevo aqui é um trecho de um desses artigos publicado na revista Physics Education deste mês. Recomendo fortemente a leitura do original (até porque não sou nenhuma profissional de tradução, então ela deve ter ficado meio 'tabajara').

(...) Embora a física seja escrita na linguagem da matemática, ela não pode ser reduzida a simples manipulação simbólica. Acreditamos que quando se estuda Física, os alunos devem primeiro explorar o significado por trás de uma determinada equação antes de começar a usá-la. Não é suficiente simplesmente resumir conceitos em equações; antes, os alunos devem ser apresentados, através de explicações detalhadas, ao significado que está por trás dessas equações.
(...) Os países de língua inglesa têm desempenhado um papel importante neste processo, como Tsai Wen e Lydia (2005) demonstram, mas a comunidade internacional para a educação científica também produziu uma grande quantidade de trabalhos, incluindo os estudos empíricos e contribuições teóricas. Por exemplo, a questão das concepções dos alunos e mudança conceitual foi um dos tópicos de pesquisa mais frequentemente investigados entre 1998 e 2002.
Antes que os alunos possam chegar a um ponto onde eles são capazes de raciocinar só por meio de equações e fórmulas, eles devem seguir um longo caminho de aculturação. Como professores, sabemos que este longo caminho existe. Mas o que acontece na prática e, mais especificamente, o que acontece nas escolas de engenharia, quando os alunos encontram-se lutando para se adaptar a essa forma de ensino? Será que basta estar perto e vê-los tirar notas medíocres?
De acordo com as nossas observações, a maioria dos professores se concentra no formalismo matemático, em vez de em conceitos científicos atuais. Acreditamos que este tipo de abordagem é contraproducente e que é uma das principais razões por que muitos estudantes falham. A comunidade científica já salientou este efeito negativo. McMillan e Swadener têm mostrado (McMillan e Swadener 1991) que os alunos que obtiveram boas notas na resolução de problemas foram capazes de chegar a uma solução "correta" para um determinado problema, mas que também exibiu os maiores equívocos sobre a situação-problema, bem como uma compreensão qualitativa mínima dele. Esta situação é, sem dúvida inerente de ser um iniciante (ou calouro) - compreensão e maturidade intelectual só vem com o tempo e a experiência. Assim, de certa forma, os professores não devem se preocupar muito com essa tensão entre habilidades quantitativas e compreensão qualitativa. No entanto, o objetivo deste trabalho é mostrar que  esse efeito "calouro" pode crescer até o ponto em que se torna necessário repensar os métodos pedagógicos utilizados.

Eddie Smigiel and Michel Sonntag. A paradox in physicseducation in France. Phys. Educ. 48(4), p 497, 2013. doi:10.1088/0031-9120/48/4/497

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Feito com ♥ por Lariz Santana