Ética em pesquisa e os perigos da obediência - uma experiência de Stanley Milgram

domingo, 18 de março de 2012

Recentemente, tive contato com a obra Obedience to authority de Stanley Milgram e fiquei chocada com o que somos capazes de fazer em nome da ciência e daquilo que nos mandam. Quando digo somos, digo consciente que nenhum de nós (seja lá em qual nível acadêmico estejamos) está livre de sermos engendrados em um contexto em que nos sintamos obrigados a fazer algo, mesmo que este algo seja deliberadamente antiético (por vezes até perigoso). Sendo assim, vale a pena refletir sobre a experiência de Milgram para que possamos estar atentos quando estas "oportunidades" nos surgirem.

OS PERIGOS DA OBEDIÊNCIA
Stanley Milgram

A obediência é um elemento tão básico, na estrutura da vida social como qualquer outro. Parte do sistema de autoridade é uma necessidade de toda vida comunitária e somente a pessoa que habita em isolamento não é forçada a responder, com desafio ou submissão, às ordens de outros. Para muitos, a obediência é uma tendência comportamental profundamente arraigada, chegando mesmo a ser um forte impulso que sobrepuja o treinamento em ética, solidariedade e conduta moral.
O dilema inerente à submissão à autoridade é tão antigo quanto a história de Abraão a quem Deus ordenou sacrificar se filho como prova de fé. A questão de saber se deve alguém obedecer ou não às ordens quando elas conflitam com a consciência foi discutida por Platão, dramatizada na Antígona de Sófocles e submetida à análise filosófica, em quase todas as épocas históricas. Os filósofos conservadores argumentam que a própria estrutura de sociedade é ameaçada pela desobediência, ao passo que os humanistas acentuam a primazia da consciência individual.
Os aspectos legais e filosóficos da obediência têm enormes conseqüências, mas esclarecem muito pouco sobre a maneira pela qual a maioria das pessoas se comportam em situações concretas. Realizei uma experiência simples na Universidade de Yale para testar até que ponto um cidadão comum poderia infligir dor a outra pessoa simplesmente porque essa ordem lhe foi dada por uma cientista experimental. A autoridade rígida foi oposta aos imperativos morais mais fortes dos testados contrárias a ferir os outros. Com os ouvidos retinindo com os gritos das vítimas, a autoridade vencia na maioria das vezes. A extrema disposição de adultos obedecerem totalmente ao comando de uma autoridade constitui o principal achado desse estudo: fato este que necessita, com maior urgência, de uma explicação.
Na experiência básica, planejada, duas pessoas chegam a um laboratório psicológico para participar de um estudo sobre memória e aprendizado. Um é chamado de “professor” e outro de “aluno”. O experimentador explica que o estudo diz respeito aos efeitos da punição no aprendizado. O aluno é conduzido a uma sala, senta-se-o numa espécie de miniatura de cadeira elétrica; seus braços são imobilizados para impedir movimentos excessivos e um eletrodo é preso ao seu pulso. Ele é informado de que ser-lhe-ão lidas listas de pares de vocabulários simples e que, então, será testada a sua capacidade de lembrar-se da segunda palavra de um par quando ouvir novamente a primeira palavra.  Sempre que cometer um erro, receberá choques elétricos de intensidade crescente. Entretanto, o verdadeiro objeto dessa experiência é o professor. Depois de presenciar o aluno sendo amarrado, ele senta-se diante de um impressionante “gerador de choques”. O painel de instrumentos consiste em trinta interruptores de alavanca dispostos em linha horizontal. Cada interruptor tem claramente marcada a designação da voltagem,que vai de 15 a 450 volts, com descrições verbais que abrangem desde Choque Leve a Choque Moderado, Choque Forte, Choque Muito Forte, Choque Intenso, Choque de Extrema Intensidade e, finalmente, Perigo: Choque Grave.
Dá-se a cada paciente um choque de amostra de 45 volts, antes dele agir como professor e o solavanco fortalece a sua crença na autenticidade do aparelho. O professor é um paciente realmente ingênuo que veio ao laboratório para essa experiência, em resposta a um anúncio colocado num jornal da localidade solicitando voluntários para um estudo científico da memória. O aluno, ou vítima é, na realidade, um ator que não recebe nenhum choque. O objetivo da experiência é ver até que ponto uma pessoa prosseguirá numa situação concreta e mensurável em que lhe é ordenado infligir uma dor crescente numa vítima que protesta
O mais impressionante desta experiência é que 2/3 do grupo estudado enquadraram-se no grupo de "obedientes", ou seja, impingiram choques elétricos só porque estavam sendo ordenados a isso. Em 2009 a BBC repetiu a mesma experiência com 12 indivíduos e somente 3 recusaram-se de prosseguir com a experiência. O resultado pode ser visto no vídeo abaixo.



Biblioteca Digital Memória da CNEN

quarta-feira, 14 de março de 2012
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) desenvolveu a Biblioteca Digital Memória da CNEN reunindo a literatura produzida pelo seu corpo funcional, tanto na área nuclear como não nuclear, com foco na preservação do conhecimento institucional. A Biblioteca abrange todos os tipos de documentos produzidos desde a década de 50 como artigos de periódicos e conferências, teses e dissertações, relatórios (publicados e de circulação interna), e normas técnicas. O mecanismo de busca de conteúdo do site permite ao internauta encontrar textos de autores ou assuntos específicos.

Numa área destinada a informações organizacionais da CNEN podem ser encontrados o perfil da instituição e de suas principais unidades. Os presidentes, tanto o atual, como os que o antecederam, são apresentados com foto e breve currículo. Relatórios anuais com informações detalhadas das atividades desenvolvidas estão publicados, abrangendo desde a criação da CNEN, em 1956, até o ano de 2010. Também são registradas as subordinações institucionais e as composições da sua Comissão Deliberativa ao longo dos anos.

O site inclui ainda a legislação do setor nuclear. Leis, decretos, portarias, outros atos legais e demais documentos, podem ser pesquisados em sistema de buscas próprio. A legislação pode ser pesquisada por ano de publicação, número do ato legal, assunto, entre outros critérios.

Uma cronologia dos principais acontecimentos da energia nuclear, no Brasil e no mundo, permite situar a instituição, seu desenvolvimento e suas atividades no contexto histórico.

O site começou a ser produzido há alguns anos e vem sendo continuamente ampliado e aprimorado. Inicialmente, foi disponibilizado apenas internamente para permitir ajustes necessários e, agora, é liberado para o acesso público no endereço http://memoria.cnen.gov.br

A Biblioteca, além de contribuir para a preservação do conhecimento institucional, tem também importância para a história da C&T do país, na medida em que documenta parte relevante do desenvolvimento da energia nuclear no Brasil.

E então, celulares causam ou não câncer?

domingo, 11 de março de 2012
Apesar de ainda não existir nenhuma contraindicação ao uso dos celulares, devemos agir com cautela até pelo pouco tempo de uso para traçarmos um padrão. Segue um resumo de uma recomendação da Organização Mundial da Saúde sobre o assunto publicada em 2010.

Principais fatos

A utilização do celular é onipresente, com cerca de 4,6 bilhões de assinaturas em todo o mundo.
Até o momento, nenhum efeito adverso para a saúde foi estabelecido para uso do telefone celular.
Estudos estão em andamento para avaliar os potenciais efeitos a longo prazo do uso do telefone móvel.
Existe um risco aumentado de acidentes de trânsito quando os motoristas usam telefones móveis (ou de mão ou "hands-free") durante a condução.

Os telefones móveis ou celulares são agora uma parte integral das telecomunicações modernas. Em muitos países, mais de metade da população usam telefones móveis, e o mercado está crescendo rapidamente. No final de 2009, havia cerca de 4,6 bilhões de assinaturas de todo o mundo. Em algumas partes do mundo, os telefones móveis são mais confiáveis ​​ou os únicos telefones disponíveis.

Dado o grande número de usuários de telefones móveis, é importante investigar, compreender e monitorar qualquer potencial impacto na saúde pública.

Os telefones móveis se comunicam transmitindo ondas de rádio através de uma rede de antenas fixas chamadas estações rádio-base. As ondas de radiofrequência são campos eletromagnéticos e, ao contrário da radiação ionizante, como raios-X ou raios gama, não pode quebrar ligações químicas nem causar ionização no corpo humano.

Os níveis de exposição

Os telefones móveis são transmissores de radiofrequência de baixa potência, operando a frequências entre 450 e 2700 MHz com potência de pico na gama de 0,1 a 2 watts. O aparelho só transmite energia quando está ligado. O poder (e, portanto, a exposição de radiofreqüência para um utilizador) diminui rapidamente com o aumento da distância do aparelho. Uma pessoa usando um celular  a 30-40 centímetros longe de seu corpo - por exemplo, quando mensagens de texto, acesso à Internet, ou usando um "hands free" dispositivo -, portanto, têm uma exposição muito menor a campos de radiofreqüência que alguém segurar o aparelho contra sua cabeça.

Existem alguns efeitos a saúde?

Um grande número de estudos foram realizados ao longo das duas últimas décadas para avaliar se os telefones móveis representam um risco potencial para a saúde. Até esta data, não houve efeitos adversos à saúde foram estabelecidas para uso do telefone celular.

Efeitos a curto prazo

Aquecimento dos tecidos é o principal mecanismo de interação entre a energia de radiofreqüência e do corpo humano. Na as frequências utilizadas pelos telefones móveis, a maioria da energia é absorvida pela pele e outros tecidos superficiais, resultando em aumento de temperatura negligenciável no cérebro ou quaisquer outros órgãos do corpo.
Um número de estudos investigaram os efeitos de campos de radiofreqüência sobre a atividade elétrica do cérebro, função cognitiva, do sono, freqüência cardíaca e pressão arterial em voluntários. Até o momento, a pesquisa não sugere qualquer evidência consistente de efeitos adversos para a saúde da exposição a campos de radiofreqüência em níveis abaixo daqueles que causam aquecimento dos tecidos. Além disso, a investigação não tem sido capaz de fornecer suporte para uma relação causal entre a exposição a campos electromagnéticos e auto-relato de sintomas, ou "hipersensibilidade eletromagnética".

Em contraste, a pesquisa mostrou claramente um aumento do risco de acidentes de trânsito quando os motoristas usam telefones móveis (ou de mão ou "hands-free") durante a condução. Em vários países, os motoristas estão proibidos ou fortemente desencorajados a utilização de celulares durante a condução.

Efeitos a longo prazo

A investigação epidemiológica que examina potenciais riscos a longo prazo da exposição a radiofreqüência, na sua maioria, foca em uma associação entre tumores cerebrais e uso de telefone celular. No entanto, porque muitos cânceres não são detectáveis ​​até muitos anos após as interações que levaram ao tumor, e uma vez que telefones celulares não foram amplamente utilizados até os anos 1990, estudos epidemiológicos atualmente só podem avaliar os cânceres que se tornam evidentes em períodos mais curtos. No entanto, os resultados de estudos em animais não mostram consistentemente maior risco de câncer a longo prazo devida a exposição a campos de radiofreqüência.

Até o momento, resultados de estudos epidemiológicos não fornecem evidências consistentes de uma relação causal entre a exposição de radiofreqüência e qualquer efeito adverso à saúde. No entanto, esses estudos têm limitações demais para excluir completamente uma associação.

Um estudo de caso-controle retrospectivo em adultos, INTERPHONE, coordenado pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC), foi desenhado para determinar se existem vínculos entre o uso de telefones celulares e câncer de cabeça e pescoço em adultos. A análise internacional conjunta dos dados recolhidos a partir de 13 países participantes não encontraram um risco aumentado de glioma ou meningioma com uso do telefone celular por mais de 10 anos.

Apesar de um aumento do risco de tumores cerebrais não ser estabelecida a partir de dados INTERPHONE, o uso crescente dos celulares e da falta de dados para uso do telefone celular durante períodos de tempo mais longos que 15 anos garante mais pesquisas de uso do telefone celular e o risco de câncer cerebral. Em particular, com a recente popularidade de uso do telefone celular entre os jovens, e consequentemente uma vida potencialmente mais longa da exposição, a OMS promoveu a investigação suplementar sobre este grupo. Vários estudos que investigam os efeitos potenciais à saúde em crianças e adolescentes estão em andamento.

Limites de exposição

Limites de exposição a radiofreqüência para usuários de telefones móveis são dadas em termos de Taxa de Absorção Específica (SAR) - a taxa de absorção de energia de radiofreqüência por unidade de massa do corpo. Atualmente, dois organismos internacionais1,2 possuem diretrizes de exposição desenvolvidos para os trabalhadores e para o público em geral, exceto os pacientes submetidos a um diagnóstico ou tratamento médico. Essas diretrizes são baseadas em uma avaliação detalhada da evidência científica disponível.

1 International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection – ICNIRP. Statement on the "Guidelines for limiting exposure to time-varying electric, magnetic and electromagetic fields (up to 300 GHz)", 2009.
2 Institute of Electrical and Electronics Engineers IEEE Std C95.1 – 2005. IEEE standard for safety levels with respect to human exposure to radio frequency electromagnetic fields, 3 kHz to 300 GHz.

Links relacionados


Site para baixar arquivos de Física Médica

terça-feira, 6 de março de 2012

O MedPhys é como se fosse um 4shared para arquivos relacionados à Física Médica. Confesso que para Medicina Nuclear há pouca coisa, mas há muitas apresentações sobre radioproteção e assuntos correlatos. Vale dar uma conferida. Para conhecer, clique na imagem.

Concurso para INB

Retirado do blog Física Médica:



As inscrições para a INB/CNEN estão abertas e vão até 18 de março de 2012. As vagas são para carreiras/cargos de nível médio/técnico e superior distribuídas nas localidades do Rio de Janeiro/RJ, Resende/RJ, Buena/RJ, Caetité/BA, São Paulo/SP, Fortaleza/CE, Caldas/MG e Brasília/DF. Os salários variam de R$ 1.261,00 a R$ 4.119,00.
Para os profissionais com nível superior, as oportunidades são para as atividades de administrador, analista de sistemas/suporte, biólogo, tradutor/ inglês, tradutor/alemão, engenheiro de segurança do trabalho, engenheiro civil, engenheiro da computação, médico do trabalho, engenheiro eletrônico, engenheiro metalúrgico, engenheiro metalúrgico (materiais e soldagem), engenheiro de produção,físico, geógrafo, engenheiro mecânico, engenheiro químico, químico / químico industrial.
As vagas de nível médio / técnico são para as atividades de assistente de administração, técnico em enfermagem do trabalho, técnico em eletromecânica, técnico em eletrônica, técnico em eletrotécnica/eletricidade, técnico em instrumentação, técnico em radioproteção, técnico em arquivo, secretaria de diretoria, técnico em edificações, técnico em segurança do trabalho, técnico em química, dentre outros.
O edital com todas as informações, exigências e requisitos poderá ser acessado através do endereço eletrônico www.legitimusassessoria.com.br. As taxas de inscrição são de R$ 50,00 para nível médio/técnico e de R$ 65,00 para nível superior. A prova está marcada para o dia 22 de abril de 2012.

Ciências às seis e meia

sexta-feira, 2 de março de 2012

Simpósio de imersão em cardiologia nuclear


Clique na imagem para mais informações.


Feito com ♥ por Lariz Santana